AO GRUPO RITORNELO DE TEATRO
O final do domingo, a grosso modo, é classificado como a antecipação da segunda-feira. Utilizamos esse período para organizar as atividades da semana. Porém, neste domingo (sete de agosto), a convite da minha amiga colega Clenir Moretto, fui assistir ao Espetáculo “O Menino do Dedo Verde” do Grupo Ritornelo de Teatro, em uma sessão extra, no Teatro do Sesc Passo Fundo.
No foyer do teatro várias crianças acompanhadas de seus pais, o que me levava a pensar num espetáculo dedicado essencialmente ao público infantil. Os pais devem amar muito seus filhos para, num final de tarde de domingo, assistir uma peça infantil. Mas, logo nas primeiras falas minhas impressões etnocêntricas foram desconstruídas. O texto abordava “idéias pré-concebidas dos adultos”. Pensei comigo: será que as crianças presentes sabem o que significa idéias preconcebidas? Os atores não realizavam a tradução infantilizadora presente em textos para crianças.
A partir deste momento dei-me conta que o espetáculo era pra mim e esqueci do possível entendimento das crianças. Algumas questões que procuro desenvolver, nas aulas de antropologia, estavam sendo apresentadas no palco: etnocentrismo (julgar seu grupo como o centro) e o relativismo (aceitar a diferença e a tolerância). Queria que todos meus alunos pudessem estar no teatro como espectadores.
Numa linguagem bem humorada e sutil os atores reiteravam o conflito pelo qual passava Tistu (personagem principal) não ser igual a todo mundo. A condição de diferente causava tensões na sua relação com os colegas e professores na escola, com seus pais. Não ser igual a todo mundo não é fácil. Tistu sofria muito ao perceber que as pessoas o reconheciam como um diferente.
Ele se deu conta de que não precisava ser igual. Podia fazer a diferença pelo amor, pela beleza, pela flor. Dei-me conta de que as crianças presentes estão compreendendo o que são “idéias preconcebidas”. Observam a encenação e se identificam com Tistu e questionam seus pais sobre a necessidade do respeito à diferença. Ao mesmo tempo, essa diferença, é contextualizada com uma tênue separação bastidores e palco. Os atores trocam de personagem sob um biombo, o que insinua uma troca de identidade social. Aquele que, anteriormente, não aceitava a diferença agora está a apoiar Tistu, como todos nós nos contextos em que estamos inseridos. Não há maniqueísmos, a dramatização é contextualizada com tensões e conflitos cotidianos.
Ao final da peça, no foyer do teatro, ouvi um menino afirmar aos seus pais e perguntar “eu não sou igual a todo mundo. Eu posso ser diferente?” Os pais não responderam nada, apenas abraçaram o filho com os olhos lacrimejados. A peça, assim como toda arte, cumpriu sua função: nos emocionar.
Como um professor de antropologia, preocupado com o processo de alteridade, me emocionei ao observar questões tão complexas do metier antropológico representadas na arte, nos conflitos infantis e na relação de afeto entre pais e filhos. São apresentações teatrais como essa que nos fazem construir, juntamente com as crianças, um mundo que aceite que ninguém é igual a todo mundo.
Ao Grupo Ritornelo de Teatro tenho que agradecer por tratar questões tão relevantes numa peça teatral, como o Menino do Dedo Verde. Obrigado.
Frederico Santos dos Santos
O GRUPO RITORNELO E MUITO ESPECIAL EU ME EMOCIONEI NOSSO CADA VEZ QUE LEMNRO DO ESPETACOLO EU CHORO DE EMOCAO
ResponderExcluir